Se tem uma coisa que o brasileiro gosta, é de jogo no celular. E não é exagero: o Brasil, hoje, ocupa uma posição de destaque no ranking mundial de jogos mobile, e esse fenômeno só cresce ano após ano.
Os motivos são muitos: o acesso cada vez maior aos smartphones, a melhoria na velocidade da internet, os preços mais acessíveis dos planos de dados, e, claro, o salto na qualidade dos jogos feitos para mobile.
Mas tem mais um fator aqui que vem chamando a atenção dos especialistas: a explosão dos jogos criados exclusivamente para o ambiente mobile. Ou seja, não são versões adaptadas de consoles ou PCs, são games pensados do zero para funcionar bem na tela do seu celular. E os estúdios estão apostando pesado nesse formato.
Mas por quê? O que está por trás desse movimento? E o que isso revela sobre o mercado — e sobre o comportamento do público brasileiro?
O Boom dos jogos mobile no Brasil
No que diz respeito à economia e ao comportamento do público em geral, nada acontece da noite para o dia. Assim se deu com o sucesso dos jogos mobile no Brasil – não veio do nada! O aumento do tempo que as pessoas passam conectadas, pacotes de dados mais acessíveis e expansão da internet móvel contribuíram para esse cenário.
Os títulos desenvolvidos exclusivamente para serem jogados em dispositivos móveis se encaixam perfeitamente no estilo de vida dinâmico que os gamers brasileiros apresentam. Poder jogar no intervalo do trabalho, durante o transporte público para a faculdade ou até mesmo durante uma tarefa e outra do dia a dia requer jogos rápidos e que não exijam equipamentos ou conhecimento avançados. Hoje, os jogos mobile andam lado a lado aos games de console e PC em termos de qualidade gráfica, profundidade e sofisticação.
Esses fatores aliados à crescente base de usuários de smartphones no país, criou o ambiente ideal para que os jogos mobile deixassem de ser apenas uma alternativa casual de entretenimento e se tornassem uma das principais maneiras de se divertir no mundo digital.
Por que cada vez mais estúdios investem nesse formato
Atualmente, o Brasil possui mais de 1.000 estúdios de desenvolvimento de games, segundo dados da Newzoo. Apostar em jogos exclusivos para mobile é uma estratégia para lá de lucrativa para os estúdios. Em primeiro lugar, os custos de desenvolvimento são geralmente mais baixos do que os desenvolvidos para PC ou consoles. Em segundo lugar, o alcance em termos de potencial é muito maior, pois qualquer pessoa que tenha um smartphone pode se tornar um jogador e não apenas os gamers tradicionais.
Outro fator que conta muito para o interesse dos estúdios, é a possibilidade de engajamento, ou seja, manter os jogadores ativos por mais tempo e ainda gerar receita de forma contínua – a chamada monetização recorrente.
Apesar do download do jogo em si ser gratuito – o famoso modo free-to-play – esse formato de negócios oferece sistemas bem estruturados para a geração de receita, como, por exemplo:
- Compras feitas dentro do próprio jogo – skins, moedas virtuais, pacotes especiais, entre outros.
- Passes de temporada que dão acesso a itens lançados naquela temporada.
- Bloqueio de anúncios (remove ads): o jogador paga para retirar os anúncios.
- Anúncios recompensados: o jogador é pago para assistir vídeos de anunciantes.
- Sistemas de login diário e recompensas por tempo conectado.
- Assinaturas mensais, com vantagens ou acessos a conteúdos premium.
Alguns desses modelos já são bastante conhecidos e comuns em jogos mobile no Brasil, por exemplo:
- Free Fire vende skins exclusivas e passes de temporada.
- Coin Master vende moedas e pacotes especiais de progressão.
- Merge Mansion vende boosters e ferramentas, pacotes especiais e energia.
- Subway Surfers tem anúncios, desbloqueio de personagens e pranchas, além de venda de moedas.
Esse tipo de abordagem de monetização e outros tipos de bônus aparece frequentemente em sites e jogos, como disponível em AskGamblers, um site especializado em reunir análises sobre operadoras de jogos online.
Perfil do jogador mobile brasileiro
O que isso revela sobre o mercado e o comportamento do jogador brasileiro? A Pesquisa Game Brasil de 2024 revelou que 85,4% dos brasileiros consideram que jogos eletrônicos são uma das suas principais formas de diversão.
Talvez o fator mais impressionante que surgiu com esse formato de jogo mobile foi a quebra de barreiras de idade e culturais. O que antes era visto como um hábito associado a um público mais jovem e totalmente casual, se tornou uma forma de entretenimento popular entre pessoas de diferentes idades, gêneros e perfis econômicos. O tempo que as pessoas passam conectadas à internet aumenta a cada ano no Brasil, sendo uma parte considerável desse tempo conectadas ao celular.
Hoje, jogar no celular não é mais “coisa de adolescente” – é um tema de conversa entre colegas de trabalho, reuniões de família e até em bate papos de pais e mães. É super comum ver adultos aproveitando momentos de folga, como intervalos de almoço, para jogar os seus jogos favoritos. A praticidade dos jogos mobile se encaixa perfeitamente no estilo de vida agitado e corrido dos adultos.
Além disso, o público feminino no mercado gamer, consumindo conteúdo, gerando receitas e participando em competições vem aumentando exponencialmente no Brasil. Games não são mais apenas ‘coisa de menino’.
Esses fatores comprovam o quanto esse cenário está em constante transformação. O celular – que antes era apenas uma ferramenta de comunicação uma ou plataforma de jogos – se tornou parte de um estilo de vida.
Muito mais que um joguinho – o game mudou!
É fato que a ascensão dos jogos exclusivos para mobile no Brasil não é apenas uma fase ou uma modinha passageira. Quem antes subestimava os chamados ‘joguinhos de celular’, talvez precise repensar e olhar com novos olhos (como diria Proust).
O cenário mudou, e mudou muito! Hoje, os jogos mobile movimentam um mercado de bilhões de reais e engajam milhões de jogadores, desde os casuais aos mais profissionais. Esse novo jeito de jogar e consumir é uma resposta direta ao comportamento de um público com vida agitada e que busca conveniência e diversão de qualidade. E os estúdios e desenvolvedores se preparam para entregar exatamente o que esse público espera com os seus jogos mobile: entretenimento na palma da mão.